» Autoconhecimento » Luto: como acolher a dor com gentileza
Por Adriana Fernandes | Publicado: 18/04/2025 às: 12:57 |
O luto é uma experiência profundamente humana e, ao mesmo tempo, uma das mais desafiadoras que podemos viver.
Ele chega sem pedir licença e, muitas vezes, nos desestabiliza por completo. Embora cada pessoa viva o luto de maneira única, existe algo em comum entre todas: a necessidade de acolher essa dor com cuidado, gentileza e presença.
Ainda que o luto seja um processo individual, ele nos lembra de algo essencial: ser gentil consigo mesma em momentos de dor é também uma forma de autocuidado emocional. É um convite para nos tratarmos com ternura, mesmo quando tudo parece escuro e confuso.
Por isso, neste artigo, vamos conversar sobre o que é o luto, por que ele nos afeta de forma tão profunda, e como o autocuidado emocional pode ser um recurso valioso nesse processo. Além disso, vamos refletir sobre como é possível conviver com a dor e, ao mesmo tempo, seguir conectada com seus valores e com aquilo que realmente importa.
Mais do que oferecer respostas prontas, a proposta deste artigo é abrir espaço para que você possa se sentir compreendida, acolhida e acompanhada, especialmente se estiver enfrentando um momento de perda.
O luto é a resposta emocional à perda de algo ou alguém que tinha valor significativo para nós. Embora, com frequência, ele esteja relacionado à morte de uma pessoa querida, é importante compreender que o luto também pode surgir diante de outras perdas. Por exemplo: o fim de um relacionamento, uma mudança brusca de vida, um diagnóstico difícil ou até mesmo a desistência de um sonho acalentado por anos.
Em qualquer uma dessas situações, o luto surge porque havia amor, vínculo e significado — sentimentos profundos que agora convivem com a dor da ausência. Quando algo que nos era precioso desaparece, a ausência desorganiza tudo dentro de nós. O que antes era rotina, agora vira silêncio. O que era abraço, vira lembrança. É como se o chão nos faltasse, e a alma buscasse um novo lugar para pousar.
Ainda assim, com o tempo e com a prática do autocuidado, essa desorganização pode, aos poucos, ceder lugar a uma reorganização afetiva. Isso não significa esquecer, mas sim reconstruir, de um modo diferente, aquilo que foi interrompido. Dessa forma, é possível ressignificar a dor e encontrar, no processo, novos caminhos de afeto e cuidado.
Além disso, é fundamental lembrar que o luto não segue uma linha reta. Em alguns momentos, pode se manifestar como saudade; em outros, como raiva, culpa, tristeza ou negação. E tudo isso é natural. Cada pessoa vive o luto de maneira singular, e não existe um único caminho certo a ser seguido. Portanto, mais do que acelerar o processo ou tentar “resolver” a dor, o mais importante é dar espaço para sentir — e se permitir cuidar de si nesse tempo difícil.
De repente, tudo o que era rotina se desfaz. Aquele “bom dia” no mesmo horário, o café dividido em silêncio, o apelido carinhoso que só vocês usavam, a troca de olhares em momentos simples… tudo isso fica suspenso.
E aí, o coração se pergunta: “Agora, para quem eu vou dizer ‘te amo’ com essa mesma intensidade? Com quem eu vou dividir esse cuidado, esse riso, essa cumplicidade?”
É nesse instante que entendemos, com dor e ternura, que o luto é mesmo uma forma de amor — mas um amor que ficou sem o lugar de sempre para pousar.
Contudo, apesar de toda a saudade, é possível — aos poucos — reconhecer que esse amor ainda existe. Ele não desaparece com a ausência. Pelo contrário: ele pulsa, ele insiste, ele transforma.
Assim, mesmo que o destino do amor tenha mudado, sua essência permanece viva.
E, com o tempo, podemos escolher novos pousos. Não para substituir, mas para continuar amando de outras formas.
Por exemplo: algumas pessoas escolhem transformar essa dor em cuidado. Passam a se dedicar a causas, a projetos que importam, ou mesmo a apoiar quem passa por lutos semelhantes. Outras redescobrem o valor das pequenas coisas — um chá quente oferecido com carinho, uma escuta atenta, uma carta escrita com saudade.
Ainda que nada traga de volta o que foi perdido, o amor continua sendo uma força regeneradora. Ele pode florescer de novo — em outras terras, em outros gestos, em outras presenças.
Portanto, permita-se sentir tudo o que está aí dentro, sem pressa. E, quando for possível, olhe para esse amor com gentileza. Ele ainda pode encontrar pouso — mesmo que agora em outros lugares.
Durante o luto, o sofrimento costuma ser intenso e, por vezes, silencioso. Ainda assim, há caminhos possíveis de acolhimento e reconstrução — e é justamente aqui que entra o autocuidado emocional.
Cuidar de si durante o luto não significa “seguir em frente como se nada tivesse acontecido”. Ao contrário: é permitir-se sentir o que precisa ser sentido, mesmo que doa. É estar presente consigo mesma com suavidade, mesmo nos momentos mais escuros.
Estabeleça limites com pessoas ou situações que não respeitam seu momento;
Permita-se descansar — o corpo também sofre no luto;
Escreva sobre o que está sentindo: o papel acolhe sem julgar;
Compartilhe sua dor com quem escuta de verdade;
Quando possível, conecte-se aos seus valores, mesmo que com pequenos passos.
Sobretudo, seja gentil com você. Luto exige tempo, e o tempo do coração não é o mesmo do relógio.
Na perspectiva da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), o luto não precisa ser evitado ou suprimido.
Ele pode ser reconhecido como parte da condição humana — e, com isso, integrado à vida com sentido.
A ACT nos ensina que não é necessário esperar a dor passar para começar a viver com presença. Podemos, sim, viver com a dor, e ainda assim caminhar na direção do que é importante para nós.
Por exemplo, mesmo em meio ao luto, você pode continuar cultivando vínculos, oferecendo cuidado a outras pessoas, retomando aos poucos as atividades que alimentam sua alma.
Não como negação da dor, mas como expressão de amor à vida — inclusive à memória de quem partiu.
Embora o luto nos faça sentir sozinhos em muitos momentos, ele é uma experiência compartilhada por todos que amam.
Assim, reconhecer a própria dor, cuidar de si com ternura e buscar apoio são atitudes de coragem.
Você não está sozinha — e não precisa passar por isso em silêncio.
Por fim, se este artigo tocou você de alguma forma, eu te convido a seguir este blog. Aqui, falamos sobre autocuidado emocional, vida com significado e temas sensíveis com profundidade e acolhimento. Vamos juntas?
Sou psicóloga clínica, CRP: (04/39812.) Atendo mulheres, ajudando-as a recuperar sua autoconfiança, superar desafios emocionais e construir uma vida mais leve e significativa. Utilizo a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT). Uma abordagem que visa ajudar pessoas a lidar com pensamentos e sentimentos difíceis, esclarecer valores, orientar ações, além de ensinar técnicas práticas para ajudar a lidar com desafios emocionais. Se você busca apoio psicológico ou deseja conhecer melhor meu trabalho, este espaço oferece informações úteis. Caso precise de acompanhamento psicológico, entre em contato. Será um prazer acompanhar você em sua jornada de crescimento e autodescoberta. Obrigada por acompanhar este blog. Vamos juntas, em direção a uma vida mais rica e significativa.
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